Empreender aos 20 e poucos anos é como saltar de um avião enquanto ainda aprende a montar o paraquedas no ar. Eu sou o Thomas, engenheiro civil de formação, e há alguns anos tomei a decisão que mudou completamente minha trajetória: fundar a Solvit, uma empresa dedicada a criar soluções digitais sob medida para PMEs. Esta é a história real por trás dessa escolha — e as lições que aprendi no caminho.

Tudo começou com uma necessidade prática: eu queria fazer uma grana para o verão. Na época, eu vinha de experiências no mundo corporativo, tendo trabalhado inclusive em multinacional. Tava naquele momento de transição clássico: formado, com alguns processos seletivos abertos para programas de trainee, mas ainda sem uma definição clara sobre meu caminho. A vontade de empreender não veio como um insight genial, mas como uma solução para um problema imediato. Eu precisava gerar receita.

Foi então que comecei a oferecer um serviço simples: cadastrar empresas locais no Google Meu Negócio. A ideia parecia trivial, mas a dor era real. Muitos pequenos empreendedores sequer sabiam como aparecer no Google, responder avaliações ou otimizar suas fichas. Eu chamei um amigo pra me ajudar e, juntos, começamos a rodar pequenos processos de atendimento e orientação. Ali começou a Solvit. Não com um business plan, mas com uma escuta ativa e muita vontade de entender o que estava faltando na vida digital dessas empresas.

Ao longo dos atendimentos, percebi que havia algo muito maior do que apenas cadastrar perfis online. Existia uma carência estratégica brutal. As empresas não sabiam o que fazer com os dados que tinham, não tinham identidade digital, não sabiam sequer como estruturar uma proposta de valor clara. E foi mergulhando nessas dores que entendi: havia um oceano de possibilidades. Esse movimento me levou a entender o verdadeiro papel da Solvit: ajudar pequenos e médios empreendedores a saírem do caos operacional e entrarem em um ciclo de crescimento consciente, estruturado e escalável.

Os Erros Que Hoje São Valiosos

Como todo começo, ele veio recheado de erros. Formalizei um CNPJ cedo demais, sem ter uma previsibilidade de faturamento. Investi em identidade visual quando nem modelo de negócio validado eu tinha. Fui perfeccionista em processos que nem deveriam existir ainda. Esses erros geraram custos, retrabalhos e, principalmente, ansiedade. Hoje vejo que o caminho teria sido muito mais leve se eu tivesse começado informalmente, com foco total em validar a dor, testar soluções e gerar resultados antes de "vestir a armadura".

Formalizar cedo demais também trouxe armadilhas: contratos inexistentes, entregas mal definidas e clientes que, sem má-fé, acabavam extrapolando escopos porque nada estava alinhado por escrito. O mesmo vale para parcerias. Quando você entra em um acordo sem definição clara, o risco é sair sobrecarregado e frustrado. Aprendi que uma parceria estratégica é sustentada pela entrega real de valor mútuo, e não apenas pela promessa de ganhos.

O perfeccionismo, percebi, é um tipo disfarçado de procrastinação. Ao tentar deixar tudo perfeito, eu deixava de testar, de me expor, de coletar feedbacks reais. O que eu ganhava em "imagem" eu perdia em velocidade de aprendizado. A imagem, inclusive, foi um dos pontos mais duros de desconstruir: entender que você pode estar no início e, ainda assim, ser valioso. A autenticidade conecta mais que a aparência.

Gestão Financeira: Sobrevivência e Escalabilidade

Dominar a matemática do seu negócio não é opcional. E aqui estou falando de uma gestão básica, mas que quase nenhum pequeno empreendedor faz:

• Separar contas (Pessoa Física vs Pessoa Jurídica)
• Controlar seu DRE — se você não sabe o que é, comece por esse artigo do SEBRAE
• Entender margens de lucro, calcular EBITDA, conhecer seu ponto de equilíbrio
• Saber quanto você pode vender, quanto você precisa vender e quando não faz sentido dar desconto

Essa clareza financeira muda completamente a forma como você negocia. Você para de aceitar qualquer cliente e começa a filtrar. Começa a entender onde você ganha mais margem, onde vale investir em retenção, e onde você está, literalmente, pagando para trabalhar. A organização financeira é a base para o crescimento sustentável.

Vendas: Do Caos ao Processo

No começo, vender era algo que me travava. Achava que era coisa de gente carismática, extrovertida, boa de papo. Mas descobri que vendas é método. SPIN Selling e NEPQ foram minhas viradas de chave. Eles me ensinaram a:

• Conduzir conversas com roteiro claro
• Levantar dor com perguntas certas
• Gerar urgência sem forçar
• Fechar com segurança porque o valor foi claramente construído

Treinar vendas foi como ir pra academia: no começo é desconfortável, mas você evolui com volume. Quanto mais conversas você tem, mais refinado fica seu pitch, sua escuta ativa, sua sensibilidade comercial.

MVP: Prototipar Rápido, Aprender Melhor

Quando falamos em MVP (Produto Mínimo Viável), muita gente ainda acha que se trata de lançar uma versão inacabada de um produto. Na prática, MVP é sobre validar hipóteses com o menor investimento possível. Com a Solvit, cada serviço oferecido no início foi um teste. Desde o cadastro no Google Meu Negócio até as primeiras páginas institucionais criadas no Canva. Cada passo era uma tentativa de entender se a dor que eu enxergava era real o bastante para alguém pagar pela solução. E essa lógica de MVP não acaba quando a empresa decola. Continuamos testando: novos pacotes, modelos de atendimento, fluxos de onboarding e até posicionamentos de marca.

O segredo? Volume e escuta. Quanto mais você testa, mais aprende. Quanto mais ouve o cliente, mais acerta na próxima.

Controle Emocional e Estoicismo

Empreender exige mais da sua mente do que da sua ideia. Não é a empresa que quebra primeiro. É o emocional do fundador. E pra manter a sanidade, eu me aprofundei em filosofia, especialmente no estoicismo. Aprendi a diferenciar o que está sob meu controle — como meu esforço, minha escuta, minha intenção — do que não está: o humor do cliente, o algoritmo do Instagram, a crise econômica.

Estabelecer essa separação me deu clareza. Se algo saiu errado, reflito sobre minha responsabilidade. Se algo deu certo, agradeço e sigo. Isso evita extremos emocionais. A disciplina de ter uma mente equilibrada vale mais do que qualquer curso de pitch.

Aprendizados Essenciais (E O Que Faria Diferente)

• Saber vender é sobrevivência. Entender processos de vendas, estudar métodos como SPIN e NEPQ e praticar com volume mudou meu jogo.
• Feedback não é elogio. Aplique o ciclo PDCA e melhore continuamente.
• Prioridade é foco. Foque no que traz resultado. Corte o que ocupa sem entregar.
• Terceirize pra escalar. Freelas de confiança são aliados, não despesa.
• Imponha limites. Com clientes e com você mesmo.
• Proposta de valor clara converte. Domine a dor do seu cliente. Seja óbvio no valor que entrega.
• Empatia comercial é arma. Venda começa com escuta.
• Evite pular etapas. Não abra empresa sem ter cliente. Não gaste com branding sem antes validar seu MVP.
• Sua mente é seu ativo. Pratique o estoicismo. Cuide da sua clareza. Ela sustenta sua resiliência.

O Impacto da Palestra no IFES

Na apresentação que fiz para os alunos de engenharia do IFES, eu pude testemunhar, ao vivo, o poder do que compartilho aqui. Vi os olhos de uma aluna brilhando. Vi um aluno querendo já aplicar o que aprendeu ali com a Solvit. Recebi mensagens de agradecimento, propostas de trabalho conjunto, e percebi que, ao compartilhar o bastidor real do empreendedorismo, eu estava acelerando o caminho de outras pessoas.

Esse artigo é uma extensão daquela conversa. Um conteúdo para quem quer empreender com consciência, sem romantizar, mas com paixão real por resolver problemas e se desenvolver.

Talves o mais importante: Não Espere Estar Pronto

Se você tem 20 e poucos anos, esse é o seu momento de testar. Empreender é assumir responsabilidade sem garantias. Mas também é colher frutos que nunca viriam no caminho seguro. Comece com o que você tem. Com quem você é. No ponto em que você está.

O empreendedor é o protagonista da própria história. E o protagonismo é, acima de tudo, uma escolha.

Essa é a jornada da Solvit. E talvez, com esse artigo, comece agora a sua.